terça-feira, 24 de novembro de 2015

Éramos

Éramos olhos, que a vida avistavam, nos corredores floridos da escola amada, da Senhora nossa que do alto nos guardava. Éramos bocas, que a vida comiam, nos lanches de luz e pão, famintas! Éramos ouvidos, que a vida auscultavam, em toques, hinos e canções, reverberando nos recônditos de nossa mente febril; nas vozes adultas que nos cantavam teoremas, equações e fórmulas de sabedoria. Éramos pele, que a vida rodopiava nos brinquedos e escorregava nos tobogãs, e urgia no sobe e desce dos balanços.

Éramos o sol, que a vida anualmente brilhava, nas trilhas sublimes das leituras desgarradas, tarefas, trabalhos, provas do ser em formação. Éramos a camisa branca, o quadro negro, as notas vermelhas, azuis, o cinza dos hábitos. Éramos a farda suja, lavada, impregnada, riscada, rasgada, despida, trocada. Éramos a farda que andava só! Éramos o nó, apertado na garganta. Éramos as brigas, intrigas, fuxicos, lágrimas e risos, derrotas e conquistas. Éramos abomináveis homens das neves, eternamente apaixonados por lolitas exibidas, que nós queríamos, desejaríamos.

Éramos livres na masmorra do saber!

Éramos trêmula caneta, borrada tinta em rasuradas questões do além-será. Éramos o medo de não passar, e o de passar e não voltar. Éramos o xis na resposta errada. Éramos o nada na resposta em branco. Éramos o grampo do sim. Éramos, por fim, nenhuma das opções anteriores.

Éramos já rasuros do que somos, a pele macia que abortava as rugas do porvir. Éramos a cor de nossos cabelos brancos, o soco de nossas mãos cansadas. Éramos imberbe face no espelho que fugiu e nunca mais voltou.

Éramos qualquer coisa, não importa, mas éramos. Mesmo que não sabíamos, éramos. E isso era o que bastava!

5 Thiago de Góes: Éramos Éramos olhos, que a vida avistavam, nos corredores floridos da escola amada, da Senhora nossa que do alto nos guardava. Éramos bocas, que a ...

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