quinta-feira, 21 de julho de 2016

O segredo

O segredo!
por Thiago de Góes

Era o sol quente na rua de barro, no açude seco, na rodoviária fantasma. Era o medo frio na garganta seca, na casinha de barro, na cidade fantasma. E eu lá, parado, sozinho, no meio do fim do mundo. 

O pior de tudo era aquele dejavú insano, a toda hora me lembrando de que ali já estivera; era aquela sensação inquietante de que estava num sonho mais real do que a própria realidade; era aquela intuição louca de que algo muito importante me seria revelado...

Poucos metros me separavam da casa. Era lá onde morava o segredo. Eu sentia! Estava ali para descobrir, como artilheiro na marca do pênalti. Mas como faria aquele gol? Onde buscaria tamanha coragem? Eram pequenos passos para um só dia, porém grandes para uma vida inteira.   

Foi quando ela surgiu! Veio pelas minhas costas. Em meus ombros retesados, senti as suas mãos macias. Jamais houvera visto aquela mulher que, no entanto, me chamou pelo nome. Não sei por qual motivo ela me dava uma segurança enorme.  

“Calma! Eu te levo até lá!”, ela me disse.
“Não largue a minha mão por nada. Por favor, não me deixe só”.

Então ela me carregou, passo a passo, como se aleijado fosse.  No meu Caminho de não sei qual São. E bateu na porta. E a porta se abriu. E por trás dela surgiu um senhor magro e sereno, de cabelos grisalhos e curtos. 

Ela me apresentou ao senhor como se eu fosse esperado. Ele me olhou sorrindo e me pediu para entrar, como se eu fosse esperado. Eu entrei, mais esperado do que nunca... E a moça desapareceu! Bateu, juro, um desespero! 

“Onde você está? Pelo amor de Deus! Você disse que não ia me deixar sozinho...”. 

E não havia mais ninguém na casa. Minto! Havia, sim. Mas estava no quarto rente à cozinha. Eu podia sentir! Na entrada, um pano de estampas coloridas, que servia de cortina improvisada, me separava do segredo.

E a cortina abriu-se rapidamente, guiada por mão invisível, deixando-me ver quem estava no local. Uma jovem mulher, bonita, com ar de louca! Muda, falava com os olhos. Por eles, via-se toda a beleza e toda a loucura daquela mulher. 

Aterrorizado, eu saí gritando! “Quem é ela? Quem é ela? Quem é ela? Quem é ela? Quem é ela?”. 

E uma voz distante me sussurrou: É sua mãe...

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